quinta-feira, setembro 29, 2005

Ah! Eu vou chorar


Pra uma pessoa especial, um post especial.

“E foi então que apareceu a raposa:
Bom dia – disse a raposa.
– Bom dia – respondeu polidamente o principezinho.
Quem és tu?
Sou uma raposa – disse a raposa.
Vem brincar comigo – propôs o princípe – estou tão triste...
Eu não posso brincar contigo – disse a raposa. Não me cativaram ainda.
Ah! Desculpa – disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
O que quer dizer cativar?
Tu não és daqui – disse a raposa. Que procuras?
Procuro amigos – disse. Que quer dizer cativar?
É uma coisa muito esquecida – disse a raposa. Significa criar laços...
Criar laços?
Exatamente – disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...
Mas a raposa voltou à sua idéia:
Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho dos seus passos, que será diferente dos outros passos. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música. E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
Por favor, cativa-me! disse ela.
– Bem quisera – disse o principe –
mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
– A gente só conhece bem as coisas que cativou – disse a raposa. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me! Os homens esqueceram a verdade, mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.

(...)


Assim o pricipezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:

– Ah! Eu vou chorar.
– A culpa é tua, disse o principezinho, eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
– Quis.
– Mas tu vais chorar! disse o principezinho.
– Vou, disse a raposa.
– Então, não sais lucrando nada!
– Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo."

Antoine de Saint-Exupéry


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