domingo, outubro 08, 2006

Som e memória

E já se passaram quase 10 anos.
Não, não foi da morte de Renato Russo. Se bem que nessa mesma data ele se foi.
Esses 10 anos referem-se a escalar.
Mas também não foi por essa razão que iniciei esse post.
Hoje levei o equipamento de escalada que o Jú imaginou roubado com o carro, há alguns anos.
O sorriso dele foi uma recompensa. Quando o mosquetão e o oito tilintaram, ele disse sentir um aperto no coração. Foi a mesma sensação que tive dias antes.
Felicidade, saudade, adrelina, tristeza.
Sentimentos que só quem escalou, fez rapel e canyoning sabe descrever. Ou melhor, nem sabe descrever. Só sentir. Um sentimento bom, de liberdade, de medo e respeito por aquilo.
Um simples som, como aquele dos metais se chocando, foi capaz de nos levar para 10 anos no passado. E voltar a sorrir aquele sorriso de juventude, de cumplicidade.
Para escalar devemos ser cúmplices uns dos outros. Sua vida está nas minhas mãos, assim como a sua vida está nas minhas.
Voltamos a sentir a adrenalina de uma abordagem numa parede com 90 graus de inclinação. A sensação de se deixar deitar no vento, e confiar naqueles fios que te ligam ao solo. Saltar e dar corda, deixar o corpo cair, bater os pés na rocha e deixar o corpo se levar pela gravidade novamente.
Simplesmente uma descrição mecânica de algo que é simplesmente indescritível.
Escalar é poesia pura. E não me cabe escrever poesia.
Infelizmente acabou esse tempo.
Como tudo, passa. E passou, escorreu como se fosse chuva.
Mas assim como a chuva, que escoa para o rio, evapora e volta novamente a ser chuva, há sempre uma esperança que retorne e seja doce como foi.
Tudo que é bom sempre volta...

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